A vida é uma cereja. A morte um caroço. O amor uma cerejeira.


19 de dezembro de 2008

Não tenho palavras...

...uso as do Zeca ...

20 de novembro de 2008

QUANTOS SEREMOS?



Não sei quantos seremos,

mas que importa?!
Um só que fosse,
e já valia a pena.
Aqui, no mundo,
alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos

mudar a hora da chegada
Nem talvez a mais certa
A da partida.
Mas podemos
fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto,

esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.



Miguel Torga




9 de novembro de 2008

Sou professora...

Estive no Terreiro do Paço no dia 8 de Novembro, no meio de milhares de pessoas. Proximos de mim, os de todos os dias. Companheiros de desencanto e batalhadores do dia a dia. Lentamente encorpámos a marcha dirigindo-nos à Rua do Ouro. Não senti euforia ou vontade de gritar palavras de ordem gastas ou fazer folclore de vez em quando. Subi a avenida entre os mais de 120000 professores. Fomos muitas vezes em silêncio, vi muitos rostos cansados e tristes.
Outros comportam-se como se de uma grande festa se tratasse.
As palavras de ordem que se ouvem não me dizem muito, as canções são desafinadas e roufenhas, o Hino Nacional é cantado fora de tom, mas o minuto de silêncio finalmente faz-se ouvir e tem grito, alma, conteudo.
Os apelos sindicais são os mesmos do costume, são ouvidos com indiferença, ou nem são ouvidos assim como a moção que é lida diz mais do mesmo, não tem em conta os interesses reais de quem está ali...atira-se com a ideia de uma greve para dia 19 de Janeiro (?) entre outras coisas.
Pede-se aprovação...olho em redor, poucos estão atentos, poucos levantam o braço. Já em casa hei-de ouvir na TV que esta moção foi aprovada por unanimidade por todos os professores presentes...
Volto as costas, começo a descer a avenida, lentamente, pelas laterais. No palanque é o que pedem para fazermos já que "há camaradas ainda a subir a avenida e que insistem(?) em chegar ao Marquês " (sic)
Sinto-me usada, não só pelo Ministério mas também pelos sindicatos que orquestraram o dia 8 de Novembro.
Por isto vou voltar a estar no Marquês no dia 15 deste mesmo mês.
Não é só pela avaliação de professores como a ministra e a comunicação social querem fazer parecer.
É também por ou contra:
As aberrações dos diplomas que todos os dias temos de fazer malabarismos para aplicar;
O mau estatuto da carreira docente que passámos a ter;
O diploma da gestão e autonomia das escolas no qual se salientam factos, como a participação da comunidade escolar, que já estavam consignados, e bem, no dipoma que tem estado em vigor.
É também, pelos diplomas do ensino especial e pelo estatuto do aluno. Os efeitos destes dois diplomas estão a ser gravissimos na vida diária das escolas.
É também pela prova de ingresso na carreira docente, pela extinção dos conservatórios, pelo calendário escolar diferenciado entre a pré escolar e os restantes níveis de ensino.
É pelos alunos que passam parte do seu dia a serem transportados para escolas longe das suas comunidades, pelo mau funcionamento das actividades de enriquecimento curricular, que obrigam a uma escolarização da criança superior ao horário de trabalho de um adulto, entre outros factos...
Não caiamos na esparrela, como fizeram ontem os sindicatos, de só falar da avaliação de professores, é nisso que a comunicação social se quer centrar e fazer passar a mensagem de que nos manifestamos pelo facto de não querermos ser avaliados.

Dia quinze também lá estarei. De negro, em silêncio, com as palavras de ordem em cartazes que gritem o que não conseguiria fazer ouvir à força da boca.
E contra a prepotência do poder não adianta acenar com uma greve para daqui a dois meses...
É uma greve de zelo por tempo indeterminado logo a partir do dia 16 se for caso disso...
Mas isto sou só eu a dizer...que sou uma simples professora...


7 de novembro de 2008

Eles têm cada uma...


Recolhidas em Escolas do 1º Ciclo portuguesas:



- O Papa vive no Vácuo (!?)


- Antigamente na França os criminosos eram executados com a Gelatina (pelo menos assim não doía tanto)


- Em Portugal os homens e as mulheres podem casar. A isto chama-se monotonia. (é frustrante que até na 2ª Classe já pensem assim...)


- Em nossa casa cada um tem o seu quarto. Só o papá é que tem de dormir sempre com a mamã. (um destino terrível...)


- Os homens não podem casar com homens porque então ninguém podia usar o vestido de noiva. (que pena ahh)


- Um seguro de vida é o dinheiro que se recebe depois de ter sobrevivido a um acidente grave. (Certo! E estas pessoas em regra vivem com outro nome no Brasil)


- Os meus pais só compram papel higiénico cinzento, porque já fui utilizado e é bom para o ambiente. (Que bom!)


- Adoptar uma criança é melhor! Assim os pais podem escolher os filhos e não têm de ficar com os que lhe saem. (pois é, com os animais de estimação também funciona assim!)


- Adão e Eva viviam em Paris. (sim, sim lá também é Paradisíaco)


- O hemisfério Norte gira no sentido contrário do hemisfério Sul. (viver ao longo do Equador deve ser muito divertido)


- As vacas não podem correr para não verterem o leite. (que bom saber isso)


- Um pêssego é como uma maçã só que com um tapete por cima. (nunca tinha pensado nisto!)


- Os douradinhos já estão mortos há muito tempo. Já não conseguem nadar! (conseguem sim! No óleo da frigideira)


- Eu não sou baptizado, mas estou vacinado. (esta tenho que ensinar aos meus filhos!)


- Depois do homem deixar de ser macaco passou a ser Egípcio. (mmm... isto ainda não sabia!)


- A Primavera é a primeira estação do ano. É na Primavera que as galinhas põem os ovos e os agricultores põem as batatas. (nunca mais como batatas)


- O meu tio levou o porco para a casota e lá foi morto juntamente com o meu avô. (bem, se o avô já lá estava…)


- Quando o nosso cão ladrou de noite a minha mãe foi lá fora amamenta-lo. Se não os vizinhos ficavam chateados. (e assim como terão ficado?)


- A minha tia tem tantas dores nos braços que mal consegue erguê-los por cima da cabeça e com as pernas é a mesma coisa. (acho que a mim aconteceria o mesmo ás pernas)


- Um círculo é um quadrado redondo. (esta é absolutamente fantástica!)


- A terra gira 365 dias todos os anos, mas a cada 4 anos precisa de mais um dia e é sempre em Fevereiro. Não sei porquê. Talvez por estar muito frio. (um génio!)


- A minha irmã está muito doente. Todos os dias toma uma pílula, mas as escondidas para os meus pais não ficarem preocupados. (sem comentários)

18 de outubro de 2008

Após ausência...

by Cerejinha - Islândia - Julho 2008




Quando nós pensamos "as coisas estão a mudar" já vamos tarde.

Já mudaram.

E nós não vimos.

7 de julho de 2008

És bom observador?

Isto não é um teste.É simplesmente um fenómeno.
Vamos lá "fenomenar"...


Lê alto o texto dentro do triangulo:


PROVAVELMENTE FOI, "A bird in the bush," E ENTÃO........

Se isto FOI o que TU disseste, então falhaste na visão...

Porque a palavra "THE" está repetida duas vezes!

Desculpa, vê outra vez.


De seguida, vamos brincar com algumas palavras.

O que vês?


A preto podes ler a palavra GOOD, a branco a palavra EVIL (dentro de cada letra preta está uma letra branca). É tudo muito fisiológico também, porque visualiza o conceito de que o BOM (GOOD) não pode existir sem o MAL (EVIL) (ou a ausência de bom é mal).


Agora, o que vês?



Podes não ver nada no início, mas nos espaços brancos lê-se a palavra "optical", na paisagem em azul lê-se a palavra "illusion". Olha outra vês! Consegues ver porque é que este quadro é chamado ilusão de óptica ?



O que vês aqui?



A palavra TEACH (ensinar) é refletida como LEARN (aprender).


A última.

O que vês?



Provavelmente leste ME (eu) em castanho, mas.......
Quando olhas através de ME (eu)
Verás
YOU (TU)!

Queres ver mais?


Testa o teu cérebro


Isto é fascinante. O segundo é fantástico portanto, por favor, lê até ao fim.


Teste do olho ALZHEIMER
Conta todos os " F " no texto seguinte:

FINISHED FILES ARE THE RE
SULT OF YEARS OF SCIENTI
FIC STUDY COMBINED WITH
THE EXPERIENCE OF YEARS...

(vê em baixo)




Quantos encontraste?

Errado, existem 6-- de verdade.
Vê outra vez!
De verdade, volta atrás e tenta encontrar os 6 F 's antes de passares à frente.

A razão que explica isto é....

O nosso cérebro não consegue processar a palavra "OF".



Incrível não? Volta atrás e vê outra vez!!

Quem conseguiu contar os 6 "F's" à primeira é um génio.


Três é normal, quatro é bastante raro.

Pois é meus amigos.
Isto não vos vai pôr doidos.!
Mas manteve-vos ocupados
Por alguns minutos..!




Afinal sempre vale a pena passar por aqui...

1 de junho de 2008

A rua é das crianças


A rua é das crianças

Ninguém sabe andar na rua como as crianças.

Para elas é sempre uma novidade, é uma constante festa transpor umbrais.

Sair à rua é para elas muito mais do que sair à rua.

Vão com o vento.

Não vão a nenhum sítio determinado, não se defendem dos olhares das outras pessoas e nem sequer, em dias escuros, a tempestade se reduz, como para a gente crescida, a um obstáculo que se opõe ao guarda-chuva.

Abrem-se à aragem.

Não projectam sobre as pedras, sobre as árvores, sobre as outras pessoas que passam, cuidados que não têm.

Vão com a mãe à loja, mas apesar disso vão sempre muito mais longe.

E nem sequer sabem que são a alegria de quem as vê passar e desaparecer.

Ruy Belo, in Imagens Vindas dos Dias

22 de maio de 2008

Percursos Literários

VISITAS PARA ESTUDANTES
Percursos Literários

Os Percursos Literários têm como objectivo divulgar a cidade de Lisboa através da vida e obra de autores da literatura portuguesa.
Percorrendo a cidade, os alunos irão conhecer ruas e locais por onde os escritores andaram, numa vista acompanhada de pequenos excertos das suas obras.

Alexandre O’Neill
Cesário Verde
Eça de Queiroz
Gil Vicente
José Rodrigues Miguéis
Luís de Camões

Destinatários:
As actividades deste novo projecto destinam-se fundamentalmente a jovens do 3º Ciclo, do secundário, grupos de jovens do ensino técnico profissionais, ou inseridos em projectos específicos, bem como a estudantes universitários.

As visitas são gratuitas e realizam-se de 2ª a 6ª feira, com uma duração aproximada de 60 a 90 minutos.

A actividade está a cargo dos técnicos da Divisão de Programação e Divulgação Cultura Direcção Municipal de Cultura, sendo que os professores serão responsáveis pelo comportamento do grupo.
A estratégia lúdico-didáctica a seguir dependerá das especificidades de cada actividade e do grupo a que é dirigida.

Marcações: tel 21 817 06 00 21 817 06 47 2ª » 6ª feira

Se desejar receber informações em formato digital sobre as actividades desenvolvidas no âmbito do projecto Visitas Para Estudantes, por favor envie um e-mail com o seu contacto para projectos.culturais@cm-lisboa.pt

12 de maio de 2008

SENTIDO HORÁRIO OU ANTI-HORÁRIO?

Observe a figura de fundo. Para que lado a mulher gira?



Segundo alguns estudiosos, ver a figura girando no sentido horário, significa que trabalha mais o lado direito do cérebro. No entanto, vê-la girar no sentido anti-horário, utiliza mais o lado esquerdo do cérebro. Faça a experiência...



Formular mentalmente questões matemáticas (que usam o lado racional do cérebro, o esquerdo), faz com que ela gire anti-horário. No entanto, se começar a cantar - mudança para o sentido horário - cantar faz-nos usar o lado direito, subjectivo, artístico.






Carlos Alberto Teixeira, o CAT do caderno 'Informática Etc...' do 'O GLOBO'



Colaboração: Mara Alice Fernandes (Pelotas/RS)

4 de maio de 2008

Mãe


Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.


Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...
P'ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...

Sebastião da Gama
Serra Mãe

20 de abril de 2008

mais uma curiosidade...




Uma curiosidade oriental tem que ver com a razão por que as chávenas de chá não têm pega naquela região do mundo: se consegue segurar com as mãos, é porque a temperatura do chá está apropriada para o consumo. Se queimar as mãos e não conseguir segurar, é porque pode fazer mal...




Os chineses e os japoneses bebem chá quente (de preferência, chá verde) durante as refeições, nunca água gelada ou bebidas geladas. Líquidos gelados durante e após as refeições solidificam os componentes oleosos dos alimentos, retardando a digestão. Reagem com os ácidos digestivos e serão absorvidos pelo intestino mais depressa do que os alimentos sólidos, demarcando o intestino e endurecendo as gorduras, que permanecerão por mais tempo no intestino. Daí o valor de um chá morno ou até água morna depois de uma refeição. Facilita a digestão e amolece as gorduras para serem expelidas mais rapidamente, o que também ajuda no emagrecimento.


Deveríamos adoptar este hábito!




(recebida por mail)

19 de março de 2008

Uma Páscoa Feliz!




A Páscoa é sempre no primeiro Domingo depois da primeira lua cheia, depois do equinócio de Primavera (20 de Março).
Esta datação da Páscoa baseia-se no calendário lunar que o povo hebreu usava para identificar a Páscoa judaica, razão pela qual a Páscoa é uma festa móvel no calendário romano.
Este ano a Páscoa acontece mais cedo do que qualquer um de nós irá ver alguma vez na sua vida! Só os mais velhos da nossa população viram alguma vez uma Páscoa tão temporã (mais velhos do que 95 anos!). A última vez que a Páscoa foi assim cedo foi em 1913.
A próxima vez que a Páscoa vai ser tão cedo como este ano (23 de Março) será no ano 2228 (daqui a 220 anos).
Por isso, ninguém que esteja vivo hoje, viu ou irá ver uma Páscoa mais cedo do que a deste ano. Aproveito a oportunidade para vos desejar uma Páscoa Feliz!


(recebido por mail, da Gaivota Sorridente. Obrigada Gaivota!)

9 de março de 2008

Chumbada!


Não é só pela avaliação de professores como a ministra e a comunicação social querem fazer parecer;

Não é só pelo mau estatuto da carreira docente que passámos a ter;

Não é só pelo diploma da gestão e autonomia das escolas no qual se salientam factos, como a participação da comunidade escolar, que já estavam consignados, e bem, no dipoma que tem estado em vigor;

É também, apesar de pouco se falar deles, pelos diplomas do ensino especial e pelo estatuto do aluno. Os efeitos destes dois diplomas vão ser gravissimos na vida diária das escolas.

É também pela prova de ingresso na carreira docente, pela extinção dos conservatórios, pelo calendário escolar diferenciado entre a pré escolar e os restantes níveis de ensino.
É também pelos alunos que passam parte do seu dia a serem transportados para escolas longe das suas comunidades, pelo mau funcionamento das actividades de enriquecimento curricular, que obrigam a uma escolarização da criança superior ao horário de trabalho de um adulto, entre outros factos...

Chumbada!
E é também porque os professores sabem avaliar!

8 de março de 2008

A origem das expressões

Durante as últimas semanas publiquei textos esclarecedores de certas expressões. Essas publicações tiveram origem num mail que recebi e onde não era mencionada a fonte. Por descuido, pressa e também alguma irreflexão não procurei saber de onde tinha sido retirada esta informação.
Bell chamou-me a atenção para esta falta de cortesia da minha parte, apresentando-me o blogue Tira Teimas onde teve origem o mail que recebi.
Pela minha indelicadeza quero apresentar um pedido de desculpas público a Bell e sugiro uma visita ao seu Blogue onde são explicadas as ditas expressões e mais algumas, com a menção de origem, tanto de texto como de imagem.

17 de fevereiro de 2008

Perguntas à Lingua Portuguesa

Mia Couto é um 'escritor da terra'. Precisamente porque, na sua expressão absolutamente única, originalíssima, escreve e descreve as próprias raízes do mundo, explorando a própria natureza humana na sua relação umbilical com a terra.
A sua linguagem extremamente rica e muito fértil em neologismos confere-lhe um atributo de singular percepção e interpretação da beleza interna das coisas. Cada palavra inventada como que adivinha a secreta natureza daquilo a que se refere, e entendemo-la como se nenhuma outra pudesse ter sido utilizada em seu lugar. As imagens de Mia Couto evocam necessariamente em nós a intuição de mundos fantásticos e em certa medida um pouco surrealistas, subjacentes ao mundo em que vivemos, que nos envolvem de uma ambiência terna e pacífica de sonhos – o mundo vivo das histórias. Mia Couto sobressai como excelente contador de histórias. Através delas, consegue manter-nos em contacto com um pulsar interno que coincide com a própria respiração da terra.


Venho brincar aqui no Português, a língua.
Não aquela que outros embandeiram. Mas a língua nossa, essa que dá gosto a gente namorar e que nos faz a nós, moçambicanos, ficarmos mais Moçambique.
Que outros pretendam cavalgar o assunto para fins de cadeira e poleiro pouco me acarreta.
A língua que eu quero é essa que perde função e se torna carícia.
O que me apronta é o simples gosto da palavra, o mesmo que a asa sente aquando o voo.
Meu desejo é desalisar a linguagem, colocando nela quantas as dimensões da Vida.
E quantas são? Se a Vida tem é dimensões?
Assim, embarco nesse gozo de ver como escrita e o mundo mutuamente se desobedecem.
Meu anjo-da-guarda, felizmente, nunca me guardou.
Uns nos acalentam: que nós estamos a sustentar maiores territórios da lusofonia. Nós estamos simplesmente ocupados a sermos.
Outros nos acusam: nós estamos a desgastar a língua. Nos falta domínio, carecemos de técnica. Ora qual é a nossa elegância? Nenhuma, excepto a de irmos ajeitando o pé a um novo chão.
Ou estaremos convidando o chão ao molde do pé?
Questões que dariam para muita conferência, papelosas comunicações.
Mas nós, aqui na mais meridional esquina do Sul, estamos exercendo é a ciência de sobreviver. Nós estamos deitando molho sobre pouca farinha a ver se o milagre dos pães se repete na periferia do mundo, neste sulbúrbio.
No enquanto, defendemos o direito de não saber, o gosto de saborear ignorâncias.
Entretanto, vamos criando uma língua apta para o futuro,veloz como a palmeira, que dança todas as brisas sem deslocar seu chão.
Língua artesanal, plástica, fugidia a gramáticas.
Esta obra de reinvenção não é operação exclusiva dos escritores e linguistas.
Recriamos a língua na medida em que somos capazes de produzir um pensamento novo, um pensamento nosso.
O idioma, afinal, o que é senão o ovo das galinhas de ouro?
Estamos, sim, amando o indomesticável, aderindo ao invisível, procurando os outros tempos deste tempo.
Precisamos, sim, de senso incomum. Pois, das leis da língua, alguém sabe as certezas delas?Ponho as minhas irreticências.
Veja-se, num sumário exemplo, perguntas que se podem colocar à língua:
  • Se pode dizer de um careca que tenha couro cabeludo?
  • No caso de alguém dormir com homem de raça branca é então que se aplica a expressão: passar a noite em branco?
  • A diferença entre um ás no volante ou um asno volante é apenas de ordem fonética?
  • O mato desconhecido é que é o anonimato?
  • O pequeno viaduto é um abreviaduto?
  • Como é que o mecânico faz amor? Mecanicamente.
  • Quem vive numa encruzilhada é um encruzilhéu?
  • Se diz do brado de bicho que não dispõe de vértebras: o invertebrado?
  • Tristeza do boi vem de ele não se lembrar que bicho foi na última reencarnação. Pois se ele, em anterior vida, beneficiou de chifre o que está ocorrendo não é uma reencornação?
  • O elefante que nunca viu mar, sempre vivendo no rio: devia ter marfim ou riofim?
  • Onde se esgotou a água se deve dizer: "aquabou"?
  • Não tendo sucedido em Maio mas em Março o que ele teve foi um desmaio ou um desmarço?
  • Quando a paisagem é de admirar constrói-se um admiradouro?
  • Mulher desdentada pode usar fio dental?
  • A cascavel a quem saiu a casca fica só uma vel?
  • As reservas de dinheiro são sempre finas. Será daí que vem o nome: "finanças"?
  • Um tufão pequeno: um tufinho?
  • O cavalo duplamente linchado é aquele que relincha?
  • Em águas doces alguém se pode salpicar?
  • Adulto pratica adultério. E um menor: será que pratica minoritério?
  • Um viciado no jogo de bilhar pode contrair bilharziose?
  • Um gordo, tipo barril, é um barrilgudo?
  • Borboleta que insiste em ser ninfa: é ela a tal ninfomaníaca?
Brincadeiras, brincriações. E é coisa que não se termina.
Lembro a camponesa da Zambézia. Eu falo português corta-mato, dizia. Sim, isso que ela fazia é, afinal, trabalho de todos nós.
Colocámos essoutro português – o nosso português – na travessia dos matos, fizemos com que ele se descalçasse pelos atalhos da savana.Nesse caminho lhe fomos somando colorações. Devolvemos cores que dela haviam sido desbotadas – o racionalismo trabalha que nem lixívia. Urge ainda adicionar-lhe músicas e enfeites, somar-lhe o volume da superstição e a graça da dança.
É urgente recuperar brilhos antigos.
Devolver a estrela ao planeta dormente.
Mia Couto

10 de fevereiro de 2008

Ultima hora!!!


Um presente do adesenhar:
Faz-me lembrar uma borboleta, tem movimento.
Obrigada artista, gostei muito :)
Só não percebo o blá.blá.blá... eu até sou uma mocinha pró caladito...


















ah!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Já percebi!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! (escrito só no dia seguinte...)

2 de fevereiro de 2008

Teste

*Teste de leitura veloz (que realizam na Universidade de Salamanca,Espanha,para quem vai ingressar no curso de Linguística)*
Tenta ler sem errar...

O gato assim fez
O gato é fez
O gato como fez
O gato se fez
O gato mantém fez
O gato um fez
O gato tótó fez
O gato ocupado fez
O gato por fez
O gato dez fez
O gato segundos fez

Agora lê, somente, as terceiras palavras, de cada uma das frases.

(Ok,Ok, é Carnaval...não desistas de passar por aqui!)

16 de janeiro de 2008

A Calçada dos Gigantes









Giant's Causeway é uma formação geológica na costa norte da Irlanda do Norte constituída por 40.000 colunas de basalto com formas poligonais muitas vezes perfeitas e colocadas lado a lado assemelhando-se a uma calçada para gigantes. Tem uma beleza rara junto ao mar e é espantoso o facto da sua existência ser natural e justificada pela geologia, mas mantém um mistério secular derivado da aparente artificialidade que dificilmente faria imaginar que não há ali mão humana. Por tudo isto atrai milhares de turistas e é classificado como Património Mundial.
Giant's Causeway gerou desde sempre grande admiração pelo carácter misterioso e lendário da formação rochosa. De facto, diz a lenda irlandesa que Finn Mac Cumhail, sábio e mágico chefe dos antigos guerreiros celtas Fianna, depois de comer o "salmão do conhecimento" tornou-se gigante. Para poder enfrentar Benandonner, um dos seus rivais gigantes que vivia na Escócia, Finn transformou rochas em colunas de uma calçada que construiria até à Escócia.














A explicação geológica para esta formação diz que na região de Antrim pré-histórica havia actividade vulcânica. As rochas de basalto que saíram de uma erupção deixaram estas fantásticas colunas, na maioria hexagonais, mas também com mais ou menos arestas.
Em Giant's Causeway existe um Centro de Visitas que é uma espécie de museu com alguns serviços de apoio. Existem também inúmeros trilhos ao longo da costa que podem ser exploradas obtendo fantásticos panoramas da costa e da formação geológica.


























10 de janeiro de 2008

Donuts


Em 1946, os donuts do americano William Rosenberg faziam tanto sucesso que o horário do lanche das indústrias da região da Nova Inglaterra passou a ser ajustado ao seu itinerário. Para facilitar o consumo, o donut vinha envovido em açúcar e o café simples, sem açúcar, era servido numa caneca. Todos os clientes mergulhavam o doce no café antes de o saborear. Os clientes satisfeitos insistiram para que William abrisse uma loja. E assim se formou a grande rede. As rosquinhas foram criadas no século XVI por padeiros holandeses, mas ainda não tinham o tradicional furo no meio. Isso só apareceu em 1847, criado pelo marinheiro americano Hanson Gregory. Essa criação valeu-lhe uma placa de bronze na sua cidade natal, Rockport.

2 de janeiro de 2008

Esta gente




Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto

De luta e de combate

Contra o abutre e a cobra

O porco e o milhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova

E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo.




Sophia de Mello Breyner Andresen