A vida é uma cereja. A morte um caroço. O amor uma cerejeira.


9 de novembro de 2008

Sou professora...

Estive no Terreiro do Paço no dia 8 de Novembro, no meio de milhares de pessoas. Proximos de mim, os de todos os dias. Companheiros de desencanto e batalhadores do dia a dia. Lentamente encorpámos a marcha dirigindo-nos à Rua do Ouro. Não senti euforia ou vontade de gritar palavras de ordem gastas ou fazer folclore de vez em quando. Subi a avenida entre os mais de 120000 professores. Fomos muitas vezes em silêncio, vi muitos rostos cansados e tristes.
Outros comportam-se como se de uma grande festa se tratasse.
As palavras de ordem que se ouvem não me dizem muito, as canções são desafinadas e roufenhas, o Hino Nacional é cantado fora de tom, mas o minuto de silêncio finalmente faz-se ouvir e tem grito, alma, conteudo.
Os apelos sindicais são os mesmos do costume, são ouvidos com indiferença, ou nem são ouvidos assim como a moção que é lida diz mais do mesmo, não tem em conta os interesses reais de quem está ali...atira-se com a ideia de uma greve para dia 19 de Janeiro (?) entre outras coisas.
Pede-se aprovação...olho em redor, poucos estão atentos, poucos levantam o braço. Já em casa hei-de ouvir na TV que esta moção foi aprovada por unanimidade por todos os professores presentes...
Volto as costas, começo a descer a avenida, lentamente, pelas laterais. No palanque é o que pedem para fazermos já que "há camaradas ainda a subir a avenida e que insistem(?) em chegar ao Marquês " (sic)
Sinto-me usada, não só pelo Ministério mas também pelos sindicatos que orquestraram o dia 8 de Novembro.
Por isto vou voltar a estar no Marquês no dia 15 deste mesmo mês.
Não é só pela avaliação de professores como a ministra e a comunicação social querem fazer parecer.
É também por ou contra:
As aberrações dos diplomas que todos os dias temos de fazer malabarismos para aplicar;
O mau estatuto da carreira docente que passámos a ter;
O diploma da gestão e autonomia das escolas no qual se salientam factos, como a participação da comunidade escolar, que já estavam consignados, e bem, no dipoma que tem estado em vigor.
É também, pelos diplomas do ensino especial e pelo estatuto do aluno. Os efeitos destes dois diplomas estão a ser gravissimos na vida diária das escolas.
É também pela prova de ingresso na carreira docente, pela extinção dos conservatórios, pelo calendário escolar diferenciado entre a pré escolar e os restantes níveis de ensino.
É pelos alunos que passam parte do seu dia a serem transportados para escolas longe das suas comunidades, pelo mau funcionamento das actividades de enriquecimento curricular, que obrigam a uma escolarização da criança superior ao horário de trabalho de um adulto, entre outros factos...
Não caiamos na esparrela, como fizeram ontem os sindicatos, de só falar da avaliação de professores, é nisso que a comunicação social se quer centrar e fazer passar a mensagem de que nos manifestamos pelo facto de não querermos ser avaliados.

Dia quinze também lá estarei. De negro, em silêncio, com as palavras de ordem em cartazes que gritem o que não conseguiria fazer ouvir à força da boca.
E contra a prepotência do poder não adianta acenar com uma greve para daqui a dois meses...
É uma greve de zelo por tempo indeterminado logo a partir do dia 16 se for caso disso...
Mas isto sou só eu a dizer...que sou uma simples professora...


7 comentários:

aDesenhar disse...

Concordo contigo.
Os professores devem comparecer
no dia 15 em Lisboa, sem Sindicatos,
sem Partidos e reforçando os pontos que estão em causa além da avaliação,
para desmontar o estratagema maquiavélico do Governo, Partidos, Comunicação Social e Sindicatos alinhados ou desalinhados, com esta luta mais que justa dos Professores.

bj

nota: Vou copiar o teu texto, para circular via mail, se não te importas.

Anónimo disse...

unidade?! sem sindicatos?! sem partidos?! quantos?! cheira-me a esturro. o governo e a ministra agradecem, de certeza. continuem com as vossas capelinhas privadas que a classe há-de ir longe. os professores não estudaram História? lembro as obras do Professor Doutor Adérito Sedas Nunes. leiam e aprendam.

João Vicente do Canto

Anónimo disse...

antes dos movimentos terem acordado para as questões dos professores, já os sindicatos lutavam, pela recuperação do tempo de serviço roubado na decada de 80,
pela queda da candidatura ao 8º escalão..etc, etc etc... agora os sindicatos são os maus da fita
tenho pena que as pessoas sofram de oingratidão
ligia

Cerejinha disse...

...e viva a pluralidade de opiniões... ;)

Cati disse...

Os sindicatos não serão os maus da fita, mas têm vindo a cometer diversos erros que nos podem vir a sair caros.

Eu estive na Manif do dia 8 e não poderei, infelizmente, estar na de amanhã, mas apoio-a completamente, assim como subscrevo e assino este teu post.

Um beijinho de uma colega solidária!

bettips disse...

"não há rapazes maus"?
É preciso escolher o que une, o que dá força para tentar abalar o sistema. Não resulta cada um por si. As tuas razões são transparentes: há muitas que também o são, milhares.
Milhões: insatisfação pela forma arrogante como somos tratados, os cidadãos.
Pelo menos, vocês estão organizados...
Já viste um Sindicato de gente sem emprego? Seria bonito.
Beijinho e Força!

MDF disse...

lindo seu espaço
faço algumas peças em MDF, quando puder da uma olhada la
abração Renato
http://renatoartesanato.com/loja/