A vida é uma cereja. A morte um caroço. O amor uma cerejeira.


10 de junho de 2009

Atitudes cívicas nas relações sociais...

Precisei de deslocar-me, em transportes públicos, à cidade de Lisboa.
Ora eu, que faço parte da urbe populosa dos arredores da capital, quero confessar que esta é uma aventura que realizo poucas vezes mas que ultimamente, cada vez que faço uma tentativa, se me apresenta assaz penosa…

No fim-de-semana passado cheguei à estação da CP e soube que, agora, o cartão da Lisboa Viva também é válido para a CP. Já tinha um Viva Viagem que costumo utilizar no Metro, carreguei na máquina da CP viagem de ida e volta. Por esse motivo fiquei impedida de usar o cartão no Metro. Os cartões são os mesmos, servem para ambos os transportadores, mas não em simultâneo. Se houver viagens de um carregadas não podemos carregar de outro…
Segue-se, fui mas não voltei. Ou melhor, voltei mas não de comboio, uma simpática boleia de automóvel deixou-me nesse dia em casa.


Hoje… chego à estação e, ao passar o cartão na máquina ela “diz” que eu tenho uma viagem creditada. Penso:
“Olá! Será a volta da semana passada?!”
Dirijo-me à bilheteira onde um funcionário me confirma que:
“Já não existe ida e volta. Agora há viagens. E, efectivamente a senhora tem uma no bilhete. Pode seguir!”
Ao passar na máquina de entrada bem faço festas com o cartão no leitor mas ele…nada!
Pessoas várias, em sentido contrário e com aquele ar de enfado de quem estão a explicar o óbvio, dizem-me:
“Ainda não está em funcionamento!”
Encolho os ombros e sigo… e lembro-me de que, na semana passada ouvi um bip ao efectuar esta operação…
Já no comboio comento com a minha mãe que, sensatamente – o que vale a experiência – comprou um bilhete simples: (ai filha, enquanto este funcionar faço como sempre) “…quando chegar a Entre Campos tenho de passar o bilhete na máquina senão não consigo comprar viagens de metro…” …e eis senão quando, vem o revisor.
Pica o bilhete da mãe (meu Deus, o que vale a simplicidade…) e introduz o meu na máquina:
“O registo deste bilhete diz que a senhora usou a sua viagem no dia 15, pelas 9:40.”
“Pois, mas tinha a volta e…”
“Já não há viagens de ida e volta! Só viagens!”
“O seu colega explicou-me isso e estou a usar a viagem não utilizada.”
“Este cartão não tem nenhuma viagem não utilizada!”
“Mas ainda agora tinha…”
“Como sabe?”
“A maquina da estação disse…e o seu colega confirmou…”
“Mas não tem!”
“Então?... posso compra-lhe o bilhete a si?”
“Isso não. Um momento…”
O comboio tinha parado na estação e o revisor dirigiu-se à porta do comboio e mandou seguir. Enquanto isso toda a gente, excepto eu, na carruagem desata a dizer mal do sistema dos bilhetes verdes, e da CP, e do Metro, e dos revisores, e…sinto-me cada vez mais comprometida…
O revisor volta.
“Não passou o cartão no detector da entrada da estação?”
“Passei, mas estava desligado…”
“Isso é o que as pessoas pensam! Está ligado sim senhor!”
A minha mãe não se aguenta:
“Ela passou sim! As pessoas até disseram que não funcionava mas ela tentou! E também vinha a dizer que tinha de passar o cartão na máquina para tirar essa viagem ao chegarmos a Entre Campos, para poder comprar viagens de Metro. E se não acredita em nós entre em contacto com o seu colega da estação!
As mães têm um poder persuasor muito grande! Ou então, a minha não têm ar de aldrabona e eu tenho…
“Bem…o sistema ainda não está perfeito…estas coisas podem acontecer…
Bom dia.”
E foi-se…
Ainda bem que a viagem chegou rapidamente ao fim. Tanta gente naquela carruagem com opinião sobre o assunto…ui!

Cena dois, no Metro:

Cartão na máquina e ela diz:
“Cartão não válido”
De novo:
“Cartão não válido”
Olho para a bilheteira. Fechada. Letreiro a dizer “Encerrado”. Menina sentada atrás a ler uma revista.
Aproximo-me e timidamente solicito “…bom dia, pode só ver o que se passa com este cartão? Diz: “Cartão não válido”…”
A menina pega no cartão, passa na máquina dela que diz “cartão não válido”, retira da máquina, olha-o, sorri-me e diz:
“Este cartão não está em condições. Tem um vinco!”
E devolve-mo.
“Tem um vinco?!?” (à minha observação parece-me normal…)
“mas ainda agora funcionou na CP!”
“Ah! Mas as nossas máquinas do Metro são mais sensíveis! Esse cartão está danificado!”
“Está danificado!? Bem. Então dê-me outro!”
“Isso não! Tem de o comprar!”
“Comprar?! Então mas usei este pouquíssimas vezes! E quando o comprei disseram-me que tem validade de um ano! Que culpa tenho eu que as vossas máquinas sejam mais sensíveis?! A mim parece-me normal, funcionou e foi lido numa máquina da CP agora mesmo e se tem algum vinco é porque é de cartão e não pode ser conservado impecável após as utilizações. Aliás este está muito pouco utilizado!”
“Pois…lamento mas…é assim!”
(suspiro) (meu)
“Então venda-me lá outro…”
“Isso não posso. O balcão está encerrado!” (e aponta para o letreiro).
“Tem de ir à máquina…”


4 comentários:

F Nando disse...

Quem lê e não seja daqui da zona de Lisboa até custa a acreditar com tanto "simplex" uma coisa tão simples dá tanta chatice eu sei porque já me aconteceu o mesmo.
Bjs vizinha

Marta disse...

kafkaniano :)

Eu tb me vejo em situações inacreditáveis, às vezes!!!

Venho agradecer o voto e o comentário! E dizer-lhe que gostei de chegar aqui. e, ainda, que adoro cerejas :)

beijinhos

Gaivota disse...

Adorei ler a tua aventura . Eu a escrever reler ...mas em primeira mão eu ouvi daí que ... enfim ,estou a ficar quase tão complicada como o teu bilhete.bj

Licínia Quitério disse...

Muito bem descritas as aventuras que se nos deparam neste simplex infernal em que nos mergulharam e em que tantos colaboram como máquinas acéfalas.

Um abracinho, Cerejinha.